Escolha uma Página

Alguns anos atrás, quando saía uma manchete de jornal sobre algum escândalo de determinada celebridade, político ou empresa, as atenções daquele dia eram todas voltadas àquele assunto. No café do escritório, na mesa do almoço ou à noite no bar, o tema do dia era aquele. Porém, no dia seguinte, a manchete do jornal já era outra e aquele assunto do dia anterior aos poucos ia sendo esquecido. Dizem ainda que brasileiro tem memória curta, o que abreviaria o esquecimento coletivo. Desta forma o grande escândalo daquele dia fatídico migrava para o arquivo morto da memória do povo.

A Era digital é caracterizada por uma enorme fugacidade. Na mesma velocidade em que um tema aparece e vira trending topic, ele vai embora.  A notícia e o choque das pessoas diante dela são efêmeros. Isso quer dizer que se alguém for acometido hoje por uma crise de imagem, com grande repercussão negativa, há uma boa chance de que em pouco tempo o ritmo de compartilhamentos e curtidas diminuam até que as pessoas passem a focar suas atenções no próximo fato do momento.

No entanto, diferentemente do jornal impresso do dia que virava banheiro de cachorro no dia seguinte, a Internet nunca esquece. Não há arquivo morto na era digital. Basta uma “googlada” para aquele tema que um dia foi muito relevante reapareça nas primeiras páginas de pesquisa e, assim, o legado negativo da crise de imagem perdurará eternamente.

Alguns fatos em torno da Copa do Mundo da Rússia deste ano geraram grande polêmica nas Redes Sociais e fora delas. Além do cabelo e das quedas do Neymar e dos vídeos nada divertidos dos rapazes brasileiros assediando as moças estrangeiras, que geraram até mesmo demissões dos autores pelas empresas onde trabalhavam, desta vez, até mesmo os tão paparicados e moderninhos youtubers ou influenciadores digitais estiveram na berlinda, por conta de declarações infelizes. Este foi o caso de Júlio Cocielo, um rapaz com mais de 11 milhões de seguidores no Instagram, dono do 5º canal mais seguido no Youtube brasileiro, cheio de contratos publicitários com grandes marcas, mas que fez um post no Twitter sobre a velocidade do jogador Mbappé, comparando-a à velocidade dos arrastões nas praias do Brasil. O post foi considerado racista e o rapaz caiu em desgraça pública. Não apenas julgado pelo povo nas Redes Sociais como também pelos seus patrocinadores, que retiraram campanhas publicitárias do ar onde Cocielo aparecia para não ter sua reputação associada a ele e ao episódio. Há que se mencionar, porém, que a condenação de Cocielo pelo público não ocorreu apenas por aquele post específico. As pessoas foram pesquisar o passado digital do influenciador e descobriram uma série de posts seus de cunho racista. Desculpas não foram suficientes para amenizar a crise e o jovem youtuber, em meio às críticas, apagou cerca de 50 mil tuites de sua conta no Twitter, na tentativa de “limpar sua barra”.

Na onda daqueles que criticavam Cocielo pela piada preconceituosa, o ator global Bruno Gagliasso, que tem uma filha negra, cobrou publicamente um posicionamento das marcas que patrocinavam o youtuber e sugeriu um boicote geral de seguidores, em protesto. No entanto, o alvo das críticas foi redirecionado para o ator. Em pesquisa na Internet, descobriu-se que Gagliasso, que apontava o dedo hoje, também havia feito comentários preconceituosos no passado, entre eles alguns comentários de 2009 onde ridicularizava homossexuais. Como consequência, o ator acabou também perdendo uma série de patrocínios e teve sua reputação abalada.

Além de crises de reputação instantâneas por atos inconsequentes do próprio agente da informação, estamos vivendo uma era de avalanches de Fake News, quando crises informacionais são criadas intencionalmente para prejudicar outra parte. Como as notícias falsas possuem um potencial de circulação muito maior e muito mais rápido do que as notícias verdadeiras e as pessoas têm grande dificuldade para identificar o que é falso e o que é verdadeiro, muitas injustiças são cometidas e prejuízos incalculáveis são contabilizados.

Muitos executivos, políticos e celebridades nesta situação de crise de imagem, sem saber o que fazer para salvar sua reputação, acabam reagindo de maneira equivocada e cometendo até mesmo crimes na Internet, sem se dar conta disso. O especialista Fernando Azevedo, da Silicon Minds, sugere que “Caso tenha sofrido alguma injustiça na Internet, não cometa outro crime como calúnia, difamação, injúria, usando perfil falso e imagens sem autorização. Você poderá ser processado se tentar fazer isso. O correto é fazer uma denúncia policial e procurar um advogado para entrar com um processo judicial contra quem o prejudicou”.

Uma boa reputação leva anos para ser construída, mas pode ser destruída em um minuto. E uma vez que a crise aconteceu, reconstruir uma imagem não é simples. Um bom exemplo é o do jogador Neymar, que na Copa do Mundo da Rússia literalmente “caiu”, tornando-se alvo de piadas e perdendo valor de mercado enquanto atleta. No início de agosto, a marca Gillete lançou na mídia um filme publicitário protagonizado por Neymar, na tentativa clara de resgatar a reputação do jogador e o filme gerou mais críticas ainda por parte do público, principalmente pela falta de autenticidade da ação. Isso corrobora com a teoria de que não existem soluções fáceis e rápidas para reconstruir a imagem de Neymar. A recuperação da sua reputação só acontecerá com atitudes concretas dentro e fora de campo, mostrando ao público seu valor de maneira genuína e convincente.

Considerando que a Internet nunca esquece, apagar o que é indesejado – como tentou fazer o Cocielo – pode ser um desejo de muitas vítimas de exposições públicas negativas de toda sorte. Para isso, hoje existe um serviço oferecido por algumas empresas especializadas em comunicação conhecido como reputação digital, o qual consiste em práticas éticas de aumento de fatores de ranqueamento em mecanismos de busca e redes sociais, usando conteúdo positivo de pessoas e organizações. De certa forma, o conteúdo positivo vai ganhando relevância em detrimento ao conteúdo negativo.

No entanto, é importante ressaltar que a reputação de uma pessoa ou organização é formada pela soma de cada atitude dela, todos os dias, perante todos os públicos que a rodeiam. Não adianta sumir com os registros negativos antigos da Internet, se o sujeito continua falando o que não deve e agindo com imprudência, negligência ou desrespeito ao próximo.

Uma vez que é possível cair numa crise em um piscar de olhos e a Internet nunca esquecerá, é muito melhor prevenir do que remediar.  Por isso, ter o apoio de uma assessoria de comunicação profissional que oriente preventivamente sobre como evitar conflitos na era digital e como lidar com eles, se forem inevitáveis, faz toda diferença.

http://www.geraldojose.com.br/mobile/?sessao=noticia&cod_noticia=106497

A Internet não esquece

http://www.jornaldosbairros.tv/noticia/41779/a-internet-nao-esquece

 

Share This